Concentração pelas 10 horas
Esta reportagem só foi possível devido ao gentil apoio das firmas Vistasol Tours, Europa Catering & Convention Centre, Metrix Carpentry Contractors, Caldense Bakery, Bento’s Auto Tire Centre, Worker Canada Immigration Services Inc, Toledo Printing & Design, New Casa Abril e Macedo Wine Grape Juice Ltd. Aqui deixamos os nossos agradecimentos ao José Duarte, Manuel de Paulos, Manuel (Manny) da Silva. Hélder Costa, Bento S. José, Richard Boraks, Lynda Matias, Januário de Barros e David Macedo, respetivamente. Um bem-haja para todos estes nossos patrocinadores.
Contra o que é habitual esta reportagem é apresentada na primeira pessoa por ter sido esta unidade militar onde o autor cumpriu 49 meses de serviço ou campanha (1962--1966).
Dois "Velhos" camaradas, os furriéis Pinheiro e Ferreira
Mais de 300 ex-combatentes da Guerra do Ultramar, incluindo familiares, reuniram-se no passado dia 27 de Maio, no restaurante “O Litoral” localizado na zona do Pombal, para o habitual convívio anual, desta o XXI. Esta unidade, o Batalhão de Transmissões 361 de Angola, foi formado em Agosto de 1962 em Luanda, e ali alguns milhares de militares, tanto do recrutamento local como vindos de Portugal, foram ali preparados na especialidade de comunicações e, após completarem os cursos, eram, na sua maioria, transferidos para outras unidades para substituição dos que terminavam as comissões e das baixas em combate ou por doença.
O furriél Meireles e a sua bóina
Já falei no passado desta saga que foi a guerra nas chamadas colonias africanas de Angola, Moçambique e Guiné onde, de 1961 até 1974, à volta de 800 mil militares ali combateram dos quais cerca de dez mil pereceram numa luta injusta mas imposta pelo ditador Oliveira Salazar contra povos que queriam ser livres e senhores dos seus destinos. Falando destas baixas tenho forçosamente de adicionar um número ainda incerto de feridos e estropiados mas que não andará longe da casa dos 30 mil (há até quem aponte os 70 mil) não incluindo os que ficaram traumatizados por stress e que só há bem poucos anos esta situação foi oficialmente reconhecida pelos nossos governantes tendo nos nossos dias o devido apoio e acompanhamento clinico (não se sabendo se com ou sem taxa moderadora).
Chegada do autocarro, vindo do norte
No entanto foi-me afirmado que a Associação dos Deficientes das Forças Armadas vem fazendo um excelente trabalho de apoio nos processos de reconhecimento deste síndroma clinico pugnando pela intervenção do nosso Governo na comparticipação das despesas inerentes no campo psiquiátrico e outros. Paralelamente, e louvável também, o mesmo esforço se vem fazendo por parte da Liga dos Combatentes. É que, infelizmente, até há relativamente pouco tempo, os males psíquicos originados pelo stress, o pós traumático síndroma e a demência adquirida em campanha era coisa impensável conseguir-se tratamento ou mesmo pensão de invalidez.
Painel de boas vindas
Estes encontros, como já referi nas minhas crónicas anteriores, não são convívios para exaltar a guerra ou feitos valorosos mas sim, apenas, para cimentar os laços de amizade e fraternidade adquiridos naqueles tempos de juventude quando assentámos praça. Foi, para alguns, anos de autêntica angustia pois lidava-se com a morte numa base diária.
Alguns elementos do batalhão, junto do painel de recepção
Víamos camaradas que morriam ou que ficavam feridos e eram evacuados. O medo era o nosso companheiro permanente e a esperança não ultrapassava as 24 horas pois nada era assegurado que estaríamos vivos na manhã seguinte.
Dois grandes amigos e camaradas encontram-se após muitos anos
O convívio deste ano foi realizado no restaurante “O Litoral” na antiga estrada nacional N1, a 9 kms de Pombal, cuja concentração começou pelas 10.30 horas da manhã. Lá vinham chegando, mais duma centena de viaturas e até um autocarro vindo com colegas de Braga, Rio Tinto, Penafiel e do Porto também. Pelas 11.30 horas foi servido um soberbo porto-de-honra após que muitos seguiram para a igreja paroquial de Matos de Ranho de Nossa Senhora da Boa-Viagem onde foi celebrada missa por alma de todos os camaradas já falecidos. Tantos nomes como o José Marques Costa, Jaiminho, Azedo, Beti, Madureira, Armando Carvalho, Sebastião Viola, Manuel José Silva, Garrido Baptista, Pereira Pinto e tantos outros.
Missa em memória dos que já "partiram"
De volta ao salão de festas foi a vez então de se iniciar o almoço tendo sido tocado o Hino Nacional e o toque de silêncio, em memória de todos aqueles militares que já partiram fisicamente do nosso mundo em especial os do Batalhão de Transmissões 361.
Todos para a fotografia
Foi comovente ver alguns dos nossos, Já “avozinhos”, com as lágrimas a correr pela face pois havia um sentimento de irmandade entre aqueles jovens de então bem estreita e forte tal como se fossemos verdadeiros irmãos de sangue.
O Marisol e o furriél Caetano
Foi pois com muita alegria no rever daquelas faces, já com rugas, de “velhos” camaradas, tantos que na sua maioria não sabemos os nomes, postos e ano de incorporação. Mas com muitos deles revivemos os tempos de meio seculo passado como o Jose Nobre (o Ze da Minerva), Baptista Lopes, João Gordinho, Armando Viegas, Hernâni Sebastião (o relojoeiro), Francisco Caetano, Chaves, Bezerra, Armando Almeida (o Marisol), Amílcar Amaral, Joaquinito, Lima Ferreira, Miller, Heleno Carreira, Luis Meireles, Teixeira Pinto, Fernando Pereira da Silva (o 25 ou o Graxa), Manuel Monteiro, o António de Jesus e outros mais que como já referi esqueci os nomes.
A mesa dos generais
Presente também um dos netos do saudoso Cônsul-geral de Portugal em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, de 1938 a 1940, e que salvou do cativeiro e da morte a mais de 35 mil refugiados. Assim, a meu convite pessoal, pois este neto integrou a coluna do capitão Salgueiro Maia, o ex-cadete miliciano, Francisco Fernando de Sousa Mendes, (que recentemente participou nas comemorações da “Revolução dos Cravos” em Toronto, a convite da Associação Cultural 25 de Abril) participou e conviveu neste almoço de veteranos da guerra colonial juntamente com todos estes elementos e com os generais e coronel que atenderam este encontro de especialistas.
Furriél Armando Ferreira com a sua esposa, nunca faltam a estes convívios
Como no corrente ano celebra-se os 50 anos do “nascimento”, em Agosto de 1962, desta unidade militar, três generais e um coronel compareceram neste convívio. Eram então capitães e tenente sendo eles os generais João Almeida Viana, Fernando Oliveira Pinto, este com a esposa, e Geraldes além do tenente, hoje coronel, Pena. Foi, pela esposa do general Oliveira Pinto e pelo furriel miliciano Luís Meireles, realizada a cerimónia do corte do bolo comemorativo acompanhado por espumante. Muitos vivas e abraços acompanharam a degustação do doce com os discursos da praxe dos organizadores e convidados encerrando desta forma este convívio por volta das 18 horas com mais abraços e votos de muita saúde e – “até para o ano, pá”.
O corte do bolo (que era enorme)
Esta de parabéns a comissão organizadora deste esmerado convívio em especial o Teixeira Pinto e o Luis Meireles, os “Homens do Norte” e que têm integrado muitos destes projectos de convívio.
Os quatro oficiais, então capitães, hoje reformados nos postos de generais: Oliveira Pinto, Geraldes, Almeida Viana e o coronel Pena na celebração da formação do BTm 361 de Angola
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